segunda-feira, 4 de maio de 2015

9. A Menina e o Relógio Carrilhão

- Mas como é passar a vida contando o tempo? – perguntou a Menina ao Relógio Carrilhão.
- Essa pergunta é equivocada, Menina. Nós, relógios, não contamos o tempo. Nós o fabricamos. É com o árduo esforço das nossas engrenagens precisas que o tempo corre, corretamente fabricado.
- Como é possível fabricar o tempo?
- E você acha que a coisa acontece como? O tempo, Menina, é mais um dos inventos da humanidade, engenhosa em capturar todas as coisas. O tempo é uma coisa fabricada, por mais que isso te espante. É um esforço coordenado por toda gente todo dia.
- Mas o tempo passa para todas as coisas, e não só para a humanidade! – retrucou a Menina, perspicaz.
- Mas nem todas as coisas nomeiam e catalogam o tempo como faz a humanidade, Menina. Ou você acha que uma montanha conta o tempo em horas, minutos e segundos? O tempo como conhecemos é uma invenção, uma excelente invenção, aliás.
- Isso é assombroso... – respondeu a Menina, pensativa. – Toda nossa vida é organizada pelas horas, minutos e segundos.
- Para você ver o poder de uma invenção desse tipo. E o tamanho da importância do nosso trabalho de relógios.
- É mesmo um trabalho de muita responsabilidade. – falou a Menina, com admiração. – Que horas são?
O Relógio Carrilhão respondeu com precisão para a Menina, que agradeceu e se despediu, deixando-o com seu importante trabalho.
Naquela manhã, a Menina passou o intervalo inteiro inventando mundos imaginários. Criava, na sua imaginação, um lugar onde a humanidade não tivesse fabricado o tempo. Um mundo em que a passagem das coisas era nomeada de outra forma, percebida de outro jeito.
Até que o sinal tocou. Havia acabado o tempo.


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