- Mas como é
passar a vida contando o tempo? – perguntou a Menina ao Relógio Carrilhão.
- Essa
pergunta é equivocada, Menina. Nós, relógios, não contamos o tempo. Nós o
fabricamos. É com o árduo esforço das nossas engrenagens precisas que o tempo
corre, corretamente fabricado.
- Como é
possível fabricar o tempo?
- E você
acha que a coisa acontece como? O tempo, Menina, é mais um dos inventos da
humanidade, engenhosa em capturar todas as coisas. O tempo é uma coisa
fabricada, por mais que isso te espante. É um esforço coordenado por toda gente
todo dia.
- Mas o
tempo passa para todas as coisas, e não só para a humanidade! – retrucou a
Menina, perspicaz.
- Mas nem
todas as coisas nomeiam e catalogam o tempo como faz a humanidade, Menina. Ou você
acha que uma montanha conta o tempo em horas, minutos e segundos? O tempo como
conhecemos é uma invenção, uma excelente invenção, aliás.
- Isso é
assombroso... – respondeu a Menina, pensativa. – Toda nossa vida é organizada
pelas horas, minutos e segundos.
- Para você
ver o poder de uma invenção desse tipo. E o tamanho da importância do nosso
trabalho de relógios.
- É mesmo um
trabalho de muita responsabilidade. – falou a Menina, com admiração. – Que
horas são?
O Relógio
Carrilhão respondeu com precisão para a Menina, que agradeceu e se despediu,
deixando-o com seu importante trabalho.
Naquela
manhã, a Menina passou o intervalo inteiro inventando mundos imaginários.
Criava, na sua imaginação, um lugar onde a humanidade não tivesse fabricado o
tempo. Um mundo em que a passagem das coisas era nomeada de outra forma,
percebida de outro jeito.
Até que o
sinal tocou. Havia acabado o tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário