- Mas você
não tem vontade de fazer as coisas de um jeito mais agitado? – perguntou a
Menina, curiosa.
- Diversas
vezes. – respondeu o Bicho-Preguiça, com certo pesar. – Alguns dias acordo com
uma vontade de fazer tudo de um jeito apressado, urgente, cheio de energia. Mas
então lembro do importante trabalho que tenho de realizar, e desisto.
- Qual
trabalho?
- O trabalho
que todo bicho-preguiça faz, nosso trabalho.
- E que
trabalho seria este?
- Não está
claro? Operar a preguiça, descansar. Eis nossa tarefa de bichos-preguiças:
realizar todas as coisas da existência com o mínimo de esforço, o menor gasto
de energia, sem a menor sombra de irritação ou ansiedade.
- Que moleza
de trabalho, hein?
- Aí que
você se engana, Menina. – respondeu o Bicho-Preguiça, com sabedoria. – Nesses
tempos que estamos é cada vez mais difícil operar a preguiça, fabricar o
descanso. Nunca as coisas pareceram tão urgentes, apressadas, como se existir fosse
um ato de produtividade. Todos sentem muita pressão nas costas. Nunca
nosso trabalho de bichos-preguiças foi tão importante.
- Por que?
- Por que
com nosso trabalho lembramos as coisas da existência que a pressa é só mais um
jeito de fazer as coisas, só mais um modo de fabricarmos a vida. Nós,
bichos-preguiças, somos a lembrança permanente de que os acontecimentos podem ter
mais calma. Em suma, servimos para lembrar a necessária preguiça de todas as
coisas.
- A
necessária preguiça de todas as coisas... – repetiu a Menina, pensativa. E se
despediu do Bicho Preguiça, que acenou vagarosamente e, com toda a calma do
mundo, escalou a árvore para começar seu dia.
No resto da
manhã, a Menina ficou à toa. Sentou-se em um canto qualquer e, como num ato
vital, mas sem esforço, deitou na grama, preguiçosamente. E ficou ali,
arrastando o dia.
Desnecessariamente olhando os acasos da vida.
Desnecessariamente olhando os acasos da vida.
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