- Mas então
você convive o tempo todo com gente morta? – perguntou a Menina, espantada.
- Não! – exclamou
o Verme do Cemitério. – Quem é que gosta de conviver com gente morta? Nós,
vermes do cemitério, gostamos de comer os mortos.
- Que
horror!
- Isso
porque vocês, humanos, cercam a morte de sentimentalidades. É só verem um
cadáver que, pronto, já ficam cheios de topos os tipos de afetos. Nós, vermes
do cemitério, não. Quando vemos um cadáver pensamos: comida!
- Como você
é insensível... – respondeu a Menina.
-
Materialista. Nós, vermes do cemitério,
somos materialistas. E, afinal, vivemos de nos alimentar dos mortos. Mas isso
não interfere na nossa sensibilidade. Existe poesia nisso que fazemos.
- Como
assim?
- Comemos a
morte e, assim, reciclamos a vida. Os cadáveres que digerimos retornam à terra,
para que possam ser absorvidos pelas raízes das árvores ou da grama. Fazemos
parte desse ciclo geral das coisas, do movimento da existência, com seus
nascimentos, transformações e mortes.
- É verdade,
há nisso muita poesia.
- Estou te
dizendo.
- Bem, preciso
ir. – finalizou a Menina. – Vou deixa-lo com seus mortos. E com seus versos.
- Gratidão.
Te desejo o mesmo: siga bem com os seus, Menina.
- Com meus
versos?
- Com seus
mortos. - concluiu o Verme do Cemitério.
- Siga bem com seus mortos.
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