segunda-feira, 15 de agosto de 2016

17. A Menina e a Vela

- Mas como é consumir a si mesma? – perguntou a Menina, intrigada.
- É um momento de êxtase. – respondeu a Vela, suspirante. – Quando lentamente derretemos para fazer brilhar nossa chama é quando cumprimos com nosso propósito de velas! Nesse momento, vivemos nossa maior alegria.
- Mas vocês não morrem no processo?
- É evidente. É com o custo da nossa existência que fazemos flamejar nossos pavios.
- E você não tem medo de deixar de existir?
- Um pouco. Mas a felicidade de brilhar, mesmo que só por um momento, compensa qualquer receio.
- Como você é corajosa!
- Não é uma questão de coragem, Menina. É uma questão de propósito. Para reluzir, toda existência morre um pouco. É preciso existir com o máximo da possibilidade para marcar o tempo com aquilo que podemos ser. É preciso queimar a vida, intensamente.
- Eu teria medo de queimar até desaparecer...
- Isso porque vocês humanos não gastam a vida em chamas, mas em anos e décadas, contados nos calendários. O seu pavio, Menina, é o tempo. Nós, velas, somos diferentes. Pertencemos a mesma espécie que o sol ou as estrelas: existimos para nos consumir, e nos consumindo relampeamos instantes de claridade universo afora.
- Sua chama é mesmo muito bonita. Como ela se mexe!
- Está dançando. – disse a Vela, sedutora. – Para você.
A Menina sorriu, debruçou sobre a mesa, e ficou ali, observando a Vela com seu fogo, que dançava e dançava. Até que a Menina dormiu. Pensando nos incêndios e brilhos da vida.


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Gratidão para quem puder entrar e deixar uma avaliação do livro na página da Livraria Cultura


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Comprei o livro devido a esse conto. Dei uma olhada rápida nos outros, mas não quero estragar o prazer de ler quando tiver ele em mãos! Muito legal!

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