- Mas então
sua função é fazer as outras pessoas rirem? – perguntou a Menina ao Nariz de
Palhaço, animada.
- Somos a
ferramenta usada para isso. Somos apetrechos nas mãos de hábeis artesãos.
- Que
artesãos?
- Os
palhaços, Menina, os artesãos do riso! Nós, narizes de palhaços, junto aos
outros apetrechos, maquiagens, adereços, figurinos, servimos de ferramenta para
que os palhaços e palhaças façam o seu trabalho: produzir o riso!
- Parece um
trabalho importante.
- E é mesmo.
A humanidade sempre tem seus carpinteiros do riso, pessoas cujo trabalho é
esse, produzir alegria e felicidade. Cada tempo tem o seu. Os palhaços são tão
antigos quanto a mais antiga sociedade humana.
- Uau... –
exclamou a Menina, deslumbrada.
- O riso é
uma coisa bastante poderosa. – disse o Nariz de Palhaço, compartilhando o
deslumbramento da Menina. – Desmancha os contornos rígidos das autoridades, a
seriedade dos discursos da ordem, os limites que amarram os corpos e suas
relações com o mundo.
- Ser
palhaço deve ser uma coisa muito divertida! – falou a Menina, inocente.
- Isso não é
verdade.
- Mas vocês
não trabalham produzindo o riso?
- Um padeiro
deixa de sentir fome por produzir centenas de pães todas as manhãs? Fazer o
riso é o ofício dos palhaços e palhaças, Menina, sua forma de fazer a vida. Um
trabalho, como outro qualquer, feito de cansaço, dificuldades e algumas
alegrias. Nos dias atuais, não é nada fácil ser palhaço.
- É uma
coisa triste de se ouvir...
- Um pouco.
Mas apesar das inúmeras dificuldades, Menina, ainda resta o riso, apesar de
tudo. Ainda resta a felicidade que arrancamos com nosso trabalho de produzir a
alegria, que contraria, mesmo que só por um segundo, todo esse triste e
lamentável arranjo do mundo. É por isso que seguimos Menina, fabricando as
risadas apesar de tudo.
- Eu adoro os
palhaços! – disse a Menina, com sincera alegria. E, ao invés de se despedir,
vestiu o nariz de palhaço. Ficou assim, o resto do dia.
Palhaçando
por aí.
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