- Mas como é
ser um televisor? – perguntou a Menina, curiosa.
- É uma
coisa bastante melancólica... – respondeu o Televisor, tristemente. – Apesar de
ter sempre a fachada cheia de brilhos e sons, nós, televisores, somos
carregados de pesar.
- Eu pensei
que vocês tinham orgulho de ser o que são. Praticamente todas as casas tem um televisor.
– retrucou a Menina, intrigada.
- E é
justamente por isso que somos melancólicos.
- Eu não
entendo.
- É
complicado. Em primeiro lugar, nós, televisores, sempre transmitimos os mesmos
canais. Milhões de casas com milhões de TVs para que se assistam em todos os
lugares as mesmas programações. Nenhum telespectador interfere no que nós,
televisores, comunicamos. Este é o primeiro motivo da nossa melancolia: nosso
trabalho é sempre impositivo, nunca uma troca.
- Puxa...
- O que nos
leva ao segundo motivo da nossa melancolia: é impondo nossos brilhos e sons
para milhões de corações e mentes que nós, televisores, cumprimos com nosso gigantesco
trabalho de manter as coisas da existência da forma como elas estão.
- Eu pensava
que o trabalho de um televisor fosse divertir, informar... – disse a Menina,
com sinceridade.
- É
divertindo e informando que nós, televisores, mostramos o mundo como uma coisa
incapaz de ser transformada. Esse é o nosso verdadeiro trabalho. E com ele,
convencemos a existência a permanecer como está, inibimos suas transformações.
Saber disso Menina, saber disso faz com que todos nós, televisores, sejamos
assim, melancólicos.
-
Compreendo. – respondeu a Menina, com pesar. E se despediu do Televisor.
Daquele em
dia em diante, a Menina passou a assistir à programação dos televisores com
muita desconfiança.
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